A pizza de liquidificador era o nosso “delivery raiz”. Minha mãe fazia com o que tivesse na geladeira: sobras do almoço, um restinho de presunto desidratado pelo tempo ou, nos dias de gala, uma lata de sardinha recém-aberta. O liquidificador gemia, coitado, como se estivesse batendo cimento, mas dali saía a massa mais famosa da casa. Pra nós, era evento! Mesa posta, suco de groselha, e todo mundo fingindo que estava num restaurante italiano — só que com o cachorro latindo e o rádio AM no fundo.
Depois a gente cresceu, ficou metido e passou a achar bonito abrir a embalagem da pizza industrial. Afinal, era só tirar do plástico e colocar no forno — uma verdadeira façanha culinária. Mas eis que a lenda da “pizza da tia Iolete” resistiu ao tempo. Era tradição: bastava os sobrinhos dormirem lá, e pronto — pizza de liquidificador no forno. Virou patrimônio afetivo da família. Até hoje, se alguém fala “pizza da tia Iolete”, o estômago da gente ronca automaticamente.
Agora, como sair de casa anda mais difícil que abrir a tampa do fermento vencido, resolvi ressuscitar a famosa receita. O liquidificador reclamou (acho que ele não superou o trauma da década de 80), mas cumpre sua missão. Já fiz com tudo: calabresa, frango, atum, até uma tentativa de versão “fitness” que o gato recusou. Mas a massa… ah, a massa é sempre igual. Aquela mistura milagrosa de farinha, ovo e memória afetiva — o tipo de coisa que nem pizzaria da esquina consegue entregar.
Sabe aquela receita que nunca falha? É essa da pizza de liquidificador! A massa é fácil, o recheio é o que o coração (ou a geladeira) mandar — e o melhor: rende uma torta deliciosa pra picar e servir no lanche da tarde.
INGREDIENTES
Massa
- 3 ovos
- ¾ xícara de chá de óleo ou azeite
- 1 xícara de chá de leite
- 2 colheres de sopa de parmesão ralado
- 1 colher de chá de sal
- 1 ½ xícara de chá de farinha de trigo
- 1 colher de sopa de fermento em pó
Cobertura (sugestão)
- 100 g de presunto picado
- 100 g de queijo parmesão picado
- 2 tomates picados sem semente
- ½ xícara de chá de molho de tomate
- 1 vidro de palmito picado
- ½ xícara de chá de temperinho verde picado
- 1 colher de chá de orégano seco
- ½ xícara de chá de parmesão ralado
MODO DE FAZER
Prepare a massa
- Pré-aqueça o forno a 180 °C.
- No liquidificador, bata os ovos, o óleo, o leite, o queijo ralado e o sal.
- Junte farinha de trigo e bata somente até obter uma mistura homogênea. Não bata muito.
- Acrescente o fermento em pó e misture rapidamente, apenas para incorporar.
- Despeje a massa em uma forma untada com azeite e polvilhada com farinha de trigo. A massa fica mole — é assim mesmo!
Prepare a cobertura
- Em uma tigela, misture todos os ingredientes picados: presunto, queijo, tomate, palmito, temperinho verde e o molho de tomate. Ou o que tiver fazendo aniversário na geladeira.
- Espalhe a mistura sobre a massa crua.
- Polvilhe por cima o parmesão ralado e o orégano seco.
Asse
- Leve ao forno por cerca de 40 minutos, ou até a massa ficar levemente dourada pelos lados. Faça o teste do palito. Dica: levante um cantinho com o garfo para conferir o ponto.
- Retire do forno, espere alguns minutos e sirva morna. Mas fria.no dia seguinte, também é uma delícia.
NOTAS
Senta aí que vem historinha: O sabor do novo
Nasci numa cidade pequena, dessas que cabem inteiras dentro de uma lembrança boa. Urussanga — um nome que parece cantiga e cheira a polenta no fogo. Lá, quase todo mundo tinha sangue italiano e mãos de quem veio da roça e da coragem. Era gente que fugiu da pobreza e da guerra, mas trouxe na bagagem o sotaque carregado, as mãos que tocam a massa e o costume de falar com emoção.
Por muito tempo, eu acreditava que o mundo inteiro falava igual a nós — com aquele “tch” no lugar errado e o “porco dio” escapando entre um gole de vinho e outro. Só depois fui descobrir que aquele jeito era só nosso mesmo, da minha Urussanga.
O domingo sempre o mesmo cardápio há gerações: macarrão caseiro, galinha assada e o cheiro do molho que grudava nas paredes da cozinha. Polenta era quase religião — a gente comia no café da manhã, no almoço, no jantar… e até como sobremesa, amassada no prato, sem açúcar, somente com aquele toque salgadinho da polenta que sobrou do almoço. (Sim, um pecado simples que ainda cometo com orgulho.)
Mas pizza… ah, pizza, não desta receita, mas aquela de massa fina, como conhecemos hoje, era um mito distante. Eu só fui conhecer quando me mudei para cidade vizinha — um universo cosmopolita aos meus olhos adolescentes. Lembro bem da placa: “Pizzaria 7 Bello”. E lembro do sabor da primeira mordida — massa fininha, quase transparente, pouco molho, fatias envergonhadas de presunto e queijo, e uma chuva de orégano por cima.
Aquela pizza era o sabor do novo, do que existia além das colinas da minha infância. Nem sei se a 7 Bello ainda existe, mas ficou o gosto da saudade: simples, quente e com um toque de orégano.




AMEI SEU SITE, JÁ FIQUEI FÃ
Que bom que vc gostou Ana maria. Tem muito carinho em tudo que eu faço aqui…bjss querida e obrigada.
Agora que eu vi que não tinha comentado ainda… tô eu aqui roubando a receita de novo!!!
Adoro. ❤️❤️❤️
É uma delícia né?? Um coringa para o jantar.
bjsss e bom dia